Muitos dias são inusitados se prestarmos atenção, porém recentemente tive um dia particularmente inusitado.
Primeiro, porque passamos o dia em Porto Alegre. Saímos de manhã cedo para um compromisso e depois fomos almoçar em um restaurante na redenção. A comida estava muito saborosa e o ambiente estava bem agradável.
Era um dia agradável! Muito sol e temperatura amena, sem vento ou qualquer outra coisa que pudesse prejudicar o nosso dia.
Depois de almoçar, aproveitamos para passear pela feira da redenção. Sempre tem muita coisa interessante lá e como de costume, não compramos nada. "Obrigado, estamos só olhando".
Ao completarmos o "circuito" de passeio entre as bancas, "zerando" a feira, a Ju lembrou que logo ali havia um sebo e queria passar lá.
Um lugar exótico e cheio de livros, óbvio que fui com sorriso de orelha a orelha.
Logo achamos o tal sebo! Porém agora era uma mescla de sebo com antiquário, tornando a visita ainda mais interessante e divertida (pelo menos para mim).
Ficamos um bom tempo olhando e admirando tudo que era cacareco velho. Seguindo a nossa tradição, saímos de lá de mãos abanando. Mas fiquei com muita vontade de comprar um taco de golfe velho que tinha lá. Realmente não saberia o que fazer com aquele taco de golfe em casa.
Começamos a voltar, indo em direção ao carro no estacionamento. Antes de ir para o carro de fato, decidimos entrar na Igreja do Santíssimo Sacramento e Santa Teresinha.
Fazia muito tempo que eu não entrava em uma igreja. E estando lá dentro, tive a sensação de que deveria fazer isso mais vezes.
Me emocionei com uma belíssima estátua de São José segurando o menino Jesus no colo. Quase levei a mão para tocar a estátua para ter certeza que a roupa da estátua não era de tecido, dada a qualidade da obra.
Fiquei observando e as pessoas se ajoelharem e rezaram. Todos se ajoelhavam em frente a imagem da Santa Teresinha, com um ar de reverência e respeito.
Em um curto espaço de tempo, cruzou por ali todo o tipo de pessoa, pessoas novas, velhas, homens e mulheres. Aquele ato tinha um ar solene, sério. Aquilo era realmente importante para aquelas pessoas, fazendo suas orações enquanto ignoravam todos que estavam a sua volta.
Saímos da igreja, mas meus pensamentos seguiriam lá dentro.
Qual era a intensão daquelas orações? O que as pessoas desejavam? Será que era um pedido por mais saúde? Conforto para algum familiar? Alívio a todo esse caos em que estamos vivendo? Ou pediam pela salvação de suas almas?
Nunca vou saber. E isso não importa.
A imagem que ficou gravada na minha memória contempla todos esses cenários e muitos outros. Foi a presença deles que mexeu comigo, não a motivação interna de cada um.
Menos impactado pela experiência recém relatada, me vi dentro de um parque de diversão. Sim, eu estava no parque da redenção, com brinquedos e música alta, ouvindo choro e riso de crianças alheias.
Habilmente escapei de tarefa de acompanhar a Sofia na montanha russa do parque. Pobre Ju!
Parecia estar mais nervosa que qualquer outra criança que "montou" naquela centopeia com sorriso esquizofrênico. Centopeia esta que estava encarregada de levar as crianças por um caminho cheio de altos e baixos, fazendo curvas em alta velocidade afim de entreter todos.
Depois que conseguimos recompor a Ju, chegou a hora de ir conhecer o Jardim Botânico de Porto Alegre. Caminhamos em busca da sombra ideal, que proporcionasse uma boa vista e uma boa distância de qualquer outra família. Até que enfim a encontramos e podemos desfrutar de um merecido descanso. Foi muito bom poder parar em meio a natureza.
Ao enterdecer, pegamos o rumo de volta para casa. Quase saindo de Porto Alegre, havia um homem em uma sinaleira com um cartaz pedindo ajuda (infelizmente isso é mais normal do que a gente gostaria). Esse homem chamou a minha atenção quando li "família venezuelana".
Notei que na calçada estava a sua esposa com os seus 2 filhos. O mais velho devia ter uns 5 anos, no máximo, já o outro era um bebê de colo.
Junto com a esposa e filhos, havia uma porção de sacolas no chão. Eram umas doze sacolas de supermercado. Parecia ser doações, ou talvez, eram os únicos pertences daquela família.
Não consigo desassociar a imagem daquele pai no sinal com a imagem de São José (Para os fiscais da fé alheia, não quero ser leviano com essa minha associação).
Acredito que todo drama que um pai sofre, São José sofreu. Seja a simples dúvida de não saber se esta fazendo o certo, até a dificuldade de garantir a subsistência e segurança da sua esposa e filhos.
Talvez aquele pai venezuelano se perguntasse toda a noite se fez certo em arriscar tudo vindo para o Brasil.
Provavelmente ninguém conseguirá responder isso.
Esse é o drama que todo pai de família tem que aprender a lidar, conviver com a incerteza e a sensação de impotência. Sofrendo sozinho com essas questões insolúveis em sua cabeça.
Nessas horas, procuro olhar para São José e procurar nele o "pai José". Busco nele força e inspiração para tentar ser melhor a cada dia.