O pescador e a sua grande batalha

Vê-se ao longe um grupo de nuvens se reunindo, como se algo de sombrio estivesse a tramar. Aos poucos, enegrece o céu e, sem pressa, antecipa o anoitecer.
Lenta e constante, ela avança sobre todos como uma criatura confiante e orgulhosa do seu potencial destrutivo. Daquelas criaturas que não precisam correr para alcançar sua vítima.
Relâmpagos surgem de todos os lados. Como sorrisos macabros que costumam estar presentes nos rostos que nos atormentam.
Alegria já não há em nenhuma alma. Nem o mais bravo dos bravos consegue evitar que seu peito se aflija.
E lançado ao mar, um pescador solitário luta a sua grande batalha. Ninguém é capaz de ouvir as orações que saem de sua boca, mas isso não impede que elas sejam atendidas.
Nada mais consegue ver à sua volta. Apenas a escuridão e o mar revoltoso são agora, a sua única companhia.
Até mesmo a lua o abandona. Sem conseguir resistir à escuridão, despede-se do pescador com olhar aflito sem saber se o verá novamente, e desejando-lhe boa sorte.
Mas bons pescadores não se fazem pela sorte. Porém agora, contar com a sorte é a única forma de manter a esperança de voltar para casa.
Casa simples, semelhante a todas as outras daquela vila.
Na fachada, um São José de azulejo segura o Menino Jesus nos braços.
E dentro, dois pares de braços estão à sua espera.
Esposa aflita, tenta disfarçar aquilo que sente no peito preparando um caldo verde, enquanto reza baixinho para não chamar atenção da filha.
Inocência da filha que nada percebe. Apenas se questiona sobre como será a história vitoriosa que seu pai irá contar sobre o monstro do mar que enfrentou no dia de hoje.

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