Ao ser pai, muitas coisas passaram a rodear minha cabeça, como um furacão que arrasta coisas tão diferentes, a girar entorno do mesmo lugar.
Foram desde assuntos práticos como: Como melhorar a situação financeira, ter o mínimo necessário para receber um bebê, qual a temperatura ideal do leite do mama, etc.
Até os mais "teóricos". Alguns deles surgiam e eram descartados, ou resolvidos, de imediato. Mas havia um que era constante. E de quando em quando ele ia, e voltava.
Assim como "O um anel" do Senhor dos Anéis, parecia que esse assunto tinha poder sobre os outros.
E por ser o mais importante, mostrava-se aos poucos para mim. Tal como o nascer do sol que, lentamente ilumina o nosso quarto, tornando visível toda a bagunça que escuridão da noite escondia.
E sem atropelos, fui entendendo que o assunto educação deveria ser o foco de tudo.
Então aos poucos fui realizando uma espécie de auto-educação (o termo é contraditório em si, mas é o que temos para hoje). Pensando em quem sabe um dia, poder ajudar ou apenas não atrapalhar, a Sofia (e agora o Bento também) na sua formação como pessoa.
Sei que muito do que eu aprendi, chegou em boa hora. Mas as vezes aprendia algo que já era tarde demais (sorry Sofia).
E depois de ler/aprender algumas cositas sobre educação, notei algo que era comum em tudo que aprendia.
Todos falavam da importância de o educando ser uma pessoa íntegra. E não falo no sentido moral, uma pessoa correta, etc. Isso também é importante, mas o principal é: o educando deve ser "ele mesmo" por completo (completo é diferente de perfeito).
Com as minhas habilidades de um chimpanzé pré-alfabetizado, vou tentar explicar um pouco melhor isso tudo, mas certamente vai ser insuficiente.
Em um dos meus livros favoritos, tinha uma frase mais ou menos assim que me marcou muito:
Crianças são ótimas em analisar e péssimas em interpretar.
Isso é tão real, tão forte... Porém tão difícil de por em prática.
Não importa o quanto você argumente e explique, é a sua conduta que vai educar.
Por isso não basta o educando ter o conteúdo, ele precisa transparecer isso na sua existência. Não adianta querer ensinar português falando "iorgute", "nóis semo assim memo".
E essa regra não se limita a educação infantil, nós adultos também aprendemos da mesma forma. Porém agora já temos a capacidade interpretativa mais desenvolvida e por isso que conseguimos aprender com livros, filmes, biografias, etc.
Mas como ensinar/passar os valores que acreditamos para nossos filhos?
Ééé meu amigo... Como já deu para perceber, não vai ser fácil.
Não adianta falar ou explicar, é necessário ser os valores que quer passar.
E cá entre nós, é muito mais fácil falar sobre ser bom e virtuoso do que ser de fato, não é?
E como a gente é "aluno" e "professor" ao mesmo tempo, onde/como poderíamos aprender a ser virtuosos?
Recentemente assisti um filme que eu acredito que possa ser um lugar para exercitarmos nossa capacidade interpretativa, e tentar aprender com essa personagem que vive o que acredita.
No filme Man of La Mancha (musical de 1973) conta, de forma resumida, a história de Dom Quixote.
E por mais maluco que pareça (trocadalho do carilho), Dom Quixote é um ótimo exemplo de pessoa que vive seus ideais e inspira as pessoas que estão a sua volta.
Dom Quixote é alguém que, apesar de tudo conspirar contra ele (inclusive a realidade), não desiste de seguir seus ideais de cavalaria. Busca, a todo custo, ser justo com todos, respeitoso com as mulheres e defender os fracos e indefesos.
"Eu nasci em um mundo de ferro para transformá-lo em ouro."
Dom Quixote anda pelo mundo na companhia de Sancho e seu cavalo Rocinante, combatendo todo anti-valor e injustiça que há no mundo. Por mais que ele sempre leve a pior, jamais hesita de fazer o que é certo.
"Combater o inimigo imbatível Suportar o sofrimento insuportável Correr onde os bravos não ousam ir"
Nenhuma situação o intimida, nenhuma chacota o envergonha, nenhuma glória o envaidece, nenhuma pancada o impede de levantar-se novamente. Pois todas suas ações são para tornar o mundo um lugar melhor.
Estar disposto a marchar para o inferno por uma causa divina. E eu sei, se eu apenas for verdadeiro a essa missão gloriosa. Que meu coração ficará em paz e calmo quando chegar a hora do meu repouso eterno.
E o mundo será melhor devido a isso: O fato de um homem, alvo de zombarias e coberto de cicatrizes. Ainda lutou com sua última gota de coragem Para alcançar as estrelas inalcançáveis!"
E se ao final, nada der certo, não importa!!
Pois sempre haverá quem foi impactado pelo exemplo e quem aprendeu pelo convívio.
Se você acha que me fez mal [os livros de cavaleria], veja pelo seguinte: Desde que me decidi me tornar cavaleiro andante, fui justo, valoroso, cortês, generoso, honesto. Passei por aventuras fantásticas. Vi coisas maravilhosas. E vi o homem se tornar um pouco melhor. Então se achas que me fez mal os livros de cavaleria, é porque ainda te faz mal a vida. Os loucos são aqueles que decidem não sair por ai a cata de aventuras."