Diálogos com Sofia III:
Em uma manhã de sol, aproveitando tempo para fazer uma caminhada pela rua com a Sofia, eis que passa uma moto por nós na rua. Daquelas típicas motos que costumam despertar os sentimentos mais assassinos, que até em monges trapistas rasgam suas vestes.
Depois que silêncio voltou a rua, a Sofia fala:
- Queria ser o presidente do Brasil.
- Porque filha?
- Eu iria mandar prender todo motoqueiro.
Então rindo eu respondo:
- Te entendo. Realmente, com essas ideias, tu tem grandes chances de virar presidente.
Diálogo IV
Rádio:
Hoje tivemos o número recorde de mortos em um único dia por COVID, de 123. Ao total já cointabilizamos 430.000 de mortos (números aleatórios).
Pai, foi tudo isso de gente que morreu hoje?
Oi filha? Não entendi.
A mulher na rádio falou que morreu um número de pessoas. Foi tudo aquilo que morreu?
Ah sim filha, deve ter sido isso mesmo.
Será que ainda tem gente viva na terra? Ou só tem nós mesmo?
(dou uma risada alta)
Ainda tem bastante gente, tu não viu o tamanho das filas que estavam agora mesmo no mercado?
Diálogo V
Em uma noite de domingo, estava eu, finalizando um texto para o blog com o meu notebook na sala, e a Sofia estava no notebook da Ju ouvindo músicas.
Então ela pediu para “ver vídeos” (são os vídeos de outras crianças jogando algum jogo). Falei para ela que não tinha problema, que ela poderia assistir.
Entre um vídeo e outro, eis que aparece um vídeo de uma menina mostrando os comentários ofensivos que ela recebe no canal dela.
Tirei os meus olhos da tela do meu note, e fiquei observando a reação da Sofia. E a menina do vídeo seguia falando:
- E tem esse comentário onde alguém diz: "Você não sabe gravar vídeos".
- E teve esse outro: "Você nem sabe jogar XPTO (não lembro o nome do jogo em questão)"
Eis então que vem o mais odioso dos comentários
"- Você é feia demais para ser youtuber"
(Eu segurei a risada. Lembrei que esses são comportamentos típicos de crianças, sempre vai ter algum mala pra incomodar os outros, mas ali o assunto era sério).
Então a Sofia olha para mim. Com os olhos quase fechados, fazendo aqueles olhinhos de “japa”, com a boca aberta de espanto. Horrorizada com os comentários
Falei pra ela:
- Viu só o que as pessoas que tem um canal no Youtube recebem de comentário?
Então ela prontamente responde:
- Se fosse meu o canal eu responderia na hora: “Me diz onde você mora? Hein… Onde você mora?”.
- Eu iria na casa dessa pessoa e ia dizer: "Vai lá e pede desculpas! E escreve um comentário me elogiando o seu.. o seu… sei lá o que".
Eu dei uma risada e falei:
- Isso ai filha, não da pra se abater com essas bobagens que outros falam.
E ela seguiu colocando pra fora o seu momento de fúria. E com os dedinhos como uma arma, ela:
- Eu ia pegar uma arma e ia dizer: "Vamos, vai lá e me elogia agora seu pirralho!"
Eu ri mais alto. Mas achei que já estávamos indo longe demais. Então falei:
- Eita filha, com arma? Será que precisa disso?
Ela:
- É uma arma de brincadeira, mas ele nem vai saber. Vai ficar com tanto medo que vai fazer tudo que eu mandar.